Chico Buarque, o rei das proparoxítonas

chico-buarque-o-rei-das-proparoxitonas

O talento do cantor e escritor Francisco Buarque de Holanda, mais conhecido como Chico Buarque, é indiscutível. Ele é um dos maiores ícones da Música Popular Brasileira. Disso, todo mundo sabe!

Porém, nem todos conhecem a genialidade do compositor, expressada na música Construção. Nesta música, Chico construiu a maioria dos versos usando apenas palavras proparoxítonas.

Imagine a tamanha dificuldade para essa construção, haja vista que as palavras proparoxítonas são as “mais raras” da língua portuguesa (todas são acentuadas).

Para aprender a diferença entre palavras proparoxítonas, paroxítonas e oxítonas, clique aqui.

Chico Buarque também usou muito bem as palavras da língua portuguesa em outras oportunidades, por exemplo, quando compôs a música cálice, uma metáfora para a expressão “cale-se !“, que simbolizava a repressão imposta pela ditadura instalada no Brasil há alguns anos.

Letra da música construção (Chico Buarque).

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague.

Confira a excelente música…

 

Go up

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Se você continuar a usar este site, assumiremos que você está satisfeito com ele. Leia mais...